quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O baleiro

Todos os dias de manhã, saio de Ferraz de Vasconcelos, uma cidade perto de São Paulo, e vou pro centro da capital. O que vou fazer? Vender balas para sustentar minha família. Essa viagem dura umas duas horas, quando não tem aquele trânsito pelo caminho consigo chegar em uma hora e meia. Demora um pouco, mas nada comparado a viagem que fiz em 1984 de Pernambuco pra cá, quando deixei minha terra para trás e resolvi tentar a sorte desse lado do Brasil.

Aqui consegui formar uma família, amo meus filhos e minha esposa, trabalho principalmente por eles, mas toda vez que penso nas pessoas que deixei bate uma saudade que é difícil de explicar, só sei dizer que às vezes meu peito aperta um pouco. Não chego a ficar triste porque não tenho tempo pra isso, quando essa dorzinha aparece sintonizo meu rádio e tento escutar um jogo do Santa Cruz, meu time do coração, isso já faz eu matar a saudade .

Essa cidade é um pouco perigosa, graças a Deus não vejo toda a violência que dizem ter, mas quando abro um jornal só vejo mortes e assaltos, nessas horas rezo para que nada aconteça com quem conheço e pra que eu volte em paz pra casa.

Acho que sou uma boa pessoa, dou boa noite pra quem posso e quando vou com a cara da pessoa até ofereço umas balinhas de erva doce, pra que elas se lembrem de mim e desejem meu bem.

Hoje se alguém me pergunta se sou feliz, eu digo que sim, mesmo não tendo certeza do que é essa felicidade. Algumas pessoas não conseguem ver isso em mim, mas não entendo o porque. Eu trabalho bastante é verdade, mas tenho tudo o que pedi a Deus, sem contar que logo mais volto pra minha terra. Vou reclamar do que? De nada, só vou viver minha vida e esperar que as coisas melhorem, porque se elas estiverem ruins, eu sei que vão melhorar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dominando o pensamento...

A falta de controle dos pensamentos teoricamente lógicos, ao mesmo tempo que instiga, expõe o caos que somos. O jeito então é apelar para a superfície medial do cerébro. Essa é uma daquelas dualidades loucas da nossa existência.

O legal é canalizar isso de alguma forma e tentar manter a mente sã. Muitos fazem isso com a arte (os maiores artistas têm ao mesmo tempo mentes perturbadas e brilhantes).

Domar as ideias não tem relação direta com os famosos objetivos impostos (sempre lembrando que esses valores são construídos e não fazem parte de nossa real natureza).

Muitas pessoas conseguem transformar suas ideias em coisas úteis sem estar em serviços tops, serem casadas com brad pits e angelinas jolis, ou andar de Mercedes e Ferrari por ai. (Claro que existem pessoas que além de terem tudo isso possuem sensibilidades incríveis e são mais fantásticas ainda).

Os caminhos podem ser variados, mas o objetivo é estar em paz consigo mesmo. Por mais complexo que isso signifique, ao meu limitado modo de ver a vida, deve ser a maior luta de nossa existência.

Nossa caixa de pandora parece ser infinita, nossos monstrinhos internos são diversos e cada vez aparecem com intensidades e sabores (amargos) diferentes. O objetivo de luta é eliminar um a um. E por mais difícil que seja esse processo é ele que nos torna humanos.

Domar nossos pensamentos, ao contrário do que diz o dicionário, não é dominar ou subjugar nossos instintos, na verdade é justamente o oposto. Significa mostrar as nossas próprias ideias, que existimos além da teoria, possuímos sentimentos e experiências que ultrapassam as palavras e consecutivamente qualquer teoria, por mais fundamentada que ela seja. Nossas ideias são úteis, mas por vezes devemos deixar que a natureza imponha nossos caminhos.

A letra não tem muita relação, mas foi a trilha sonora durante a produção desse texto :0)



sábado, 4 de junho de 2011

Repressão democrática: Marcha da Maconha, CPTM e Bombeiros/RJ


Nos últimos dias podemos ver em diversos jornais, sites, revistas e afins o abuso de poder e o despreparo brasileiro quando o assunto a ser tratado é a liberdade de expressão.

Começando pela Marcha da Maconha. A porrada comeu solta depois de um juiz proibir a manifestação em São Paulo, o que só serviu para fortalecer o movimento. Além da marcha, tivemos as greves dos transportes públicos. A CPTM e os rodoviários do ABC foram obrigados pelo TRT a DURANTE UMA GREVE manter, respectivamente, 90% e 80% de seus funcionários trabalhando. E hoje vimos no Rio de Janeiro a prisão de 439 pessoas que reivindicavam o aumento do salário dos bombeiros (que atualmente é de R$ 950,00).

Nos mais variados âmbitos sociais, percebemos que estamos num furação de repressão por parte do legislativo, executivo e judiciário brasileiro. Não me lembro desde quando o abuso de poder perante a população civíl esteve tão explicito e em episódios tão fortes e nada isolados quantos esses.

Apesar de achar desnecessário, darei três justificativas para que as manifestações acima se mantivessem, ou pudessem existir:

1) Expor sua opinião com relação a liberação de drogas ilícitas, sejam elas quais forem, não caracteriza crime. O que é considerado penalidade é a apologia ao uso das drogas. Durante a Marcha da Maconha, o que vemos é um pedido de parte da população brasileira ao Poder Público. O que se deseja é a revisão das leis que proíbem a erva, algo completamente normal. Vide que nosso ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, abordou a questão durante toda esta semana e não foi preso por apologia.

2) Sou completamente contra o controle de greves. Se elas existem é justamente para fazer com que as pessoas prestem atenção no que está sendo exigido. Setores como o transporte público, que são considerados essenciais, devem trazer condições razoáveis a seus trabalhadores. É bastante discutida a forma como as manifestações são organizadas. Frequentemente a abertura das catracas é colocada como uma opção para o protesto, porém ela é proibida por lei, se algum funcionário for pego fazendo o ato leva uma justa causa na carteira, portanto, que parem os ônibus e trens e não haja intervenção da justiça. A coisa mais ilógica do mundo é existir uma greve com 90% do efetivo, seja ele qual for, funcionando.

3) Um bombeiro receber R$ 950,00 justifica qualquer manifestação. E a forma como foram tratados justifica ainda mais os quase que insignificantes prejuízos (veja lista aqui: http://migre.me/4J233) que causaram a corporação. Hoje, estes trabalhadores foram tratados como bandidos e vagabundos, quando na verdade faziam uma reivindicação legitima de seus direitos.

O Estado tem todo o direito de manter a “ordem social”, porém algumas coisas mudam com o tempo e o Poder Público deve se ajustar a essa evolução. Uma coisa são leis que regem a sociedade para o bem de todos, outra é a utilização destas normas para repressão de grupos que têm o direito de se lutarem por seus direitos.

Urgência do Dead Fish para animar o caos: "HOJE É O DIA DA REVOLUÇÃO!!!!"



sábado, 14 de maio de 2011

Churrascão Diferenciado!!!

Um simples relato do manifesto “Churrascão da Gente Diferenciada”. Fui ao local e não me apresentei como jornalista. Apenas observei aqui, escutei acolá e trago minhas impressões a vocês. As declarações estão sem o nome das pessoas, porque não me importei com isso!

A primeira pergunta a ser respondida. Tinha churrasco? Tinha sim, claro que não foram todos que levaram suas carnes, mas algumas pessoas levaram suas churrasqueiras, frangos assados, salsicha, farofa.

O manifesto começou tímido, um senhor com chapéu de cangaceiro estendia uma faixa que tinha escrito “Pessoais Diferenciados. É nóis na fita!”, com aproximadamente 50 pessoas parecia que não tomaria grandes proporções. Havia mais repórteres do que manifestante, mas o protesto continuou e alguns ciclistas chegaram para dar fôlego ao evento.

Com gritos de “Mais Metrô, menos motor”, todos levantaram suas bicicletas e atraíram a visão das câmeras. Nesse momento o trânsito começou a ficar complicado, muitos motoristas nervosos que queriam passar pela Av. Higienópolis não paravam de tocar suas buzinas, mas o som logo foi abafado.

Com o anúncio de um policial nervoso para um guarda da CET “Fecha a avenida, porque está vindo muita gente pelo outro lado”, começou a se ouvir uma batucada, que conforme se aproximada trazia mais vida ao churrasco. Era o pessoal do Movimento Passe Livre, que vinha uma bateria, uma replica da catraca de metrô feita de jornal (que depois atearam fogo e assaram seus queijos) e muitos manifestantes.

Com coros de “Ei Kassab vai tomar no cu”, “Ei Rede Globo, aqui ninguém é bobo” e “ Onde já se viu, é a elite mais porca do Brasil” a festa começou a tomar corpo e mais pessoas começaram a chegar. Nesse momento já se tinha aproximadamente 300 pessoas e a Av. Higienópolis estava bloqueada para os carros.

Durante o tempo que ficamos na frente do prédio aconteceu um fato que deve ser destacado. Uma senhora estava animada acompanhando as músicas com seu cachorro, um Golden. Uma moça super simpática viu o animal de boca aberta e deu água pra ele, pensando que estava cansado. A boa ação não deu muito certo. O bichinho vomitou tudo que tinha comido. Mas a dona, com toda sua educação diferenciada, recolheu a meleca do chão.

Aconteceram dois fatos no mínimo curiosos. Um judeu passando no meio de todo mundo, com olhares de “me desafiem se forem capaz”, foi completamente ignorado (deixando de lado a discussão sobre preconceito que rolou essa semana completamente sem sentido).

E uma senhora dizendo “É quando se é jovem, não se tem ligação com nenhuma empresa, nem com nenhuma responsabilidade, as pessoas fazem o que quiserem. Mas eles vão crescer”. Essa senhora no mínimo era cega, por que haviam muitos pais que levaram seus filhos e idosos moradores do bairro entoando os hinos contra o Poder Público e a atitude dos moradores de não quererem o Metrô na região.

Depois desses fatos eis que surge a ideia “Pessoal, o que vocês acham de irmos até onde deveria ser a estação?”. Os aplausos serviram como aprovação e minutos depois seguiu-se a procissão.

Muitas pessoas, estavam reunidas e foram cantando do começo ao fim. A festa estava garantida, buzinas, spray com espuma de carnaval, risos, apitos, pandeiros. Uma alegria. Chegando ao Pão de Açúcar (local de onde a estação foi retirada) uma churrasqueira abriu espaço dentre as pessoas para o delírio de todos que estavam no evento.

Foi um evento incrível, sem sujeira, sem violência. Sai de lá às 17h e resolvi refazer o caminho inverso ao da passeata. Tirando uma garrafa quebrada, uma quantidade de gelo que ainda não havia derretido e MUITAS bitucas de cigarro no chão (das quais uma parte contribui) não havia sinais da quantidade de pessoas que estiveram ali. É claro, o trânsito continuou caótico, por que depois da Higienópolis a Av. Angélica foi fechada. (mas isso não foi nem um pouco ruim pra quem estava na comemoração).

Que venham mais e mais churrascos!!! E que o Metrô resolva realmente colocar a estação onde o povo precisa. Voltei andando até a estação Marechal Deodoro e não é tão perto assim, tudo bem que a descida ajuda, mas um idoso, por exemplo teria dificuldades.

E não vamos desanimar galera, para isso, uma música especial do mestre Gonzaguinha na voz de Maria Rita!!! "O Homem Falou" é a segunda música pessoal, não achei ela sozinha, com uma qualidade aceitável!!!




domingo, 3 de abril de 2011

A USP deveria ser paga

Desenvolvo essa ideia pelo seguinte fato: as pessoas que estudam lá tem mais que condições de desembolsar uma grana e poderiam auxiliar na promoção de um ensino melhor para todos.

Em nosso país ocorre um efeito muito incoerente com relação a transição do ensino fundamental/médio para o superior. Pessoas que estudaram sua vida inteira em escolas públicas (que oferecem péssimas condições de ensino) migram para as universidades privadas (que também não possuem as melhores condições de ensino). E alunos que passaram sua vida escolar inicial em escolas particulares (com boas estruturas e condições aceitáveis de ensino) vão para as universidades públicas que são as melhores do país.

Saiu a notícia essa semana de que alunos das escolas públicas terão uma facilidade maior para entrar na USP, um bônus de 15% na primeira fase. Essas ações são válidas, mas não resolverão os problemas como um todo.

Para resolver essa questão tenho duas ideias bem polêmicas, mas que talvez fossem eficazes:

Primeira: Taxar a USP.

Partindo do principio da igualdade (e não precisa ser um socialista para ver que existe um problema em nossa educação). Defendo a criação de uma taxa proporcional aos alunos que tenham condições de pagar a universidade. Isso se dá de maneira bem simples com comprovação de renda, como se faz no ProUni. Essa taxa serviria, conforme o tempo, para a administração do próprio curso que o aluno estuda. Com esses recursos as coordenações poderiam ter alguma autonomia em sua ações e utilizar os investimentos onde mais lhe interessasse, para a melhoria e atualização dos cursos, além de possíveis aumentos na produção de pesquisa científica independente, financiada pela própria universidade.

Segunda: Criação de uma universidade voltada para alunos do ensino público

Com a economia gerada por essas mensalidades (óbvio que precisará de mais dinheiro, a USP dificilmente se sustentará com mensalidades de 2 mil reais) deveria se criar uma universidade pública apenas para alunos provindos das escolas públicas. A seleção faria com que os melhores alunos cursassem a universidade garantindo inicialmente, com uma boa administração é claro, um nível médio de ensino. E dando uma formação um pouco mais elevada do que várias instituições de ensino que encontramos hoje. Algumas chamadas universidades cobram 300 por mês e enfiam 150 alunos numa mesma sala pra terem saírem de lá com um diploma a não uma formação.

Se me perguntarem se essas são as melhores opções para resolver os problemas da educação, com certeza responderei que não. Mas vejo como um inicio. A injustiça que atinge nossa sociedade deve começar a ser resolvida de alguma maneira.

Com uma formação mais elevada e profissões melhores, os futuros profissionais (vindos das escolas públicas) poderão dar uma educação melhor para seus filhos fazendo com que possam concorrer uma vaga na USP ou outa universidade tradicional, fazendo com que cada vez mais pessoas sejam inclusas no esquema da universidade pública para alunos do ensino fundamental/médio público e outras que não teriam possibilidades de entrar em nenhuma dessas, ao menos possa almejar uma vaga no ensino superior.

É um processo de longo prazo, mas algo que poderia aliviar muitas gerações no futuro se fosse feito agora.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Somos átomos e espírito...

Religiosidade e ciência nada mais são do que interpretações de uma mesma realidade.

A afirmação acima pode parecer descabida, mas na verdade é o que vem fazendo mais sentido no momento.

Uma experiência, relativamente recente, fez eu perceber algo simples. Não vivemos em nosso habitat natural. Nossos antepassados foram gerados e desenvolvidos em um convívio harmônico com o meio ambiente, aos poucos isso foi se perdendo. Mas acredito que esse antigo convívio nos faça ter uma ligação muito forte com nossa real progenitora: A Natureza.

A ciência nos mostra que somos nada mais e nada menos que átomos. As religiões (vamos entender religião como uma maneira ampla de espiritualidade e não apenas dogmas e crendices) diz que existe uma força maior que nos rege.

Em minha nova interpretação, essas duas teorias se complementam, ao invés de se distrairem. Realmente nossa matéria é formada pelos átomos e a força maior existe, não na configuração de um ser supremo que rege nossas vidas, mas na forma da própria natureza.

Nossa vida corrida, agitada e apressada, não nos deixa refletir uma bem coisa óbvia, mas que não damos o devido valor é: Tudo o que existe a nossa volta foi feita pela mão do homem, logo, nosso cotidiano caótico tem pouca relação com nossa essência animal.

As ferramentas são descritas por Marx como algo que nos afirma como seres humanos ao mesmo tempo que nos rejeita. Uma ferramenta é algo externo a natureza humana, não faz parte de nossas vidas, porém a capacidade de transformar matéria em ferramenta é uma das razões que faz de nós seres racionais.

Resgatar essa conectividade com a natureza é uma experiência pela qual todos devem passar, ao menos uma vez na vida. Para quem desejar saber como consegui é só perguntar, mas acredito que isso seja uma busca um pouco pessoal. Você pode ser levado por meio de diversas experiências.

No final apenas quero dizer: Ser humano significa se integrar não ao sistema, ou aos nossos desejos pessoais, mas a tudo que está a nossa volta e faça parte desta nossa essência animal. Realmente somos formado de átomos e estamos conectados a algo bem maior que nós! Essa música representa bem isso:



quinta-feira, 17 de março de 2011

Palavras duras, porém necessárias!

Por vezes minha essência faz com que machuque as pessoas, mas algumas cicatrizes são necessárias.

As vezes percebo que colocar o discurso em prática é algo completamente diferente de proferi-lo. Não sou um mestre nisso, mas tento fazê-lo quando posso. Mas não é de hoje que vejo o quão difícil isso pode ser.

Para fazer valer seus pensamentos, por vezes, você tem de magoar algumas pessoas. Faz parte do processo. E esse fator abre para diversas possibilidades de interpretação, algo essencial em nossas vidas, mas que por vezes confunde nossos pensamentos.

Ninguém é obrigado a conviver com trejeitos e desafetos em volta para ter uma consciência estável. O ideal é que haja respeito, porém é necessário saber que nosso direito acaba onde começa o da outra pessoa. E o respeito ao próximo, seja ele quem for, é prioridade.

Escrevo isso, sem ter o desejo de escrever. Mas espero que essa minha teimosia e ideologia, por vezes idiota, tenha alguma validade, pelo menos por hoje.

Essa música é muito bonita e caiu como uma luva hoje!